As Vulnerabilidades Cibernéticas do Brasil: Um Olhar Essencial para a Conformidade
O Brasil, com sua crescente digitalização de atividades econômicas e sociais, tornou-se um dos países mais visados por hackers e cibercriminosos. Para as organizações que operam no país, compreender as complexas e multifacetadas vulnerabilidades cibernéticas não é apenas uma questão de segurança operacional, mas também um pilar fundamental da conformidade regulatória.
A seguir, detalhamos as principais vulnerabilidades que as empresas e entidades no Brasil devem considerar em suas estratégias de cibersegurança e conformidade:
- Arcabouço Legal e Regulatório Insuficiente e Obstáculos Políticos
- Apesar de progressos significativos, como a aprovação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a emenda constitucional que tornou a proteção de dados um direito fundamental em 2022, o Brasil ainda possui níveis inadequados de cibersegurança devido a estruturas legais deficientes.
- A legislação atual não aloca autoridades ou recursos suficientes para regular o ciberespaço eficazmente.
- Considerações políticas, incluindo vetos presidenciais, têm sido um obstáculo para uma arquitetura legal de cibersegurança eficaz, dificultando o estabelecimento e a aplicação de medidas cruciais de proteção de dados e de autoridades como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
- A ANPD, embora já formada e operacional, ainda está em processo de emissão de regulamentações complementares para diversas disposições da LGPD, como avaliações de impacto à proteção de dados (DPIA) e transferência internacional de dados.
- Muitas políticas cibernéticas existentes são desconectadas e com maturidade de implementação incerta, e a Política Nacional de Cibersegurança (PNCiber), promulgada em 2023, é significativamente reduzida em relação à sua proposta inicial, não prevendo recursos financeiros ou de força de trabalho adicionais nem abordando a criação de uma agência de cibersegurança esperada.
- Dependência de Tecnologia Estrangeira e Influência Maligna
- O setor de telecomunicações brasileiro demonstra uma forte dependência de fornecedores estrangeiros, com uma parcela significativa de suas redes móveis operando com equipamentos de empresas como a Huawei. Isso levanta preocupações sobre a exfiltração de dados em conformidade com leis estrangeiras.
- A atividade de phishing de Estado-nação tem como alvo entidades brasileiras, com mais de 85% provenientes da China, Coreia do Norte e Rússia. Esses grupos visam setores governamentais, aeroespaciais, de defesa, energia e criptomoedas para ganho financeiro, coleta de inteligência e influência política.
- Atores norte-coreanos representam uma ameaça interna, buscando empregos ilícitos em startups brasileiras para coletar informações para o desenvolvimento de seu país.
- A dependência de sistemas de pagamento controlados por estrangeiros como Visa e Mastercard suscita preocupações com a soberania digital, pois essas empresas coletam e monetizam vastas quantidades de dados de usuários e podem ser usadas como ferramentas políticas.
- Atividade Cibercriminosa Persistente e Ataques Sofisticados
- O Brasil é um alvo principal para cibercriminosos devido ao seu desenvolvimento econômico, recursos abundantes e diversidade de negócios. Houve um aumento significativo de ciberataques devido à crescente digitalização.
- Cibercriminosos estão em constante evolução, utilizando métodos altamente sofisticados para realizar intrusões.
- Observa-se um aumento em ataques de ransomware, violações de dados e operações sofisticadas de phishing. Em 2024, 166 casos de ransomware tiveram o Brasil como alvo principal, e 66% das organizações brasileiras pagaram o resgate, uma taxa superior à média global.
- Grupos como LockBit 3.0 e Conti são os principais responsáveis por ataques de ransomware no Brasil. Notáveis incidentes incluem o Banco de Brasília em 2022 e o Ministério da Saúde em 2021, onde o grupo Lapsus$ alegou ter copiado e excluído 50 TB de dados, impactando inclusive os certificados de vacinação COVID-19.
- O Brasil está entre os países com a maior incidência de infecções por Stealer malware, que compromete dados sensíveis como IDs de usuário, senhas e informações de cartão de crédito. Isso é parcialmente atribuído ao uso generalizado de software sem licença, baixa conscientização sobre cibersegurança e um alto número de tentativas de phishing.
- Ataques de phishing são prevalentes, com a administração pública e serviços de informação sendo os setores mais impactados. É preocupante que 63,3% dos domínios potenciais de phishing utilizem HTTPS, o que pode enganar os usuários a acreditarem que o site é seguro.
- O Dark Web é uma plataforma significativa para cibercriminosos, com um aumento de publicações relacionadas ao Brasil, predominantemente para compartilhamento e venda de dados. Mais de 100 anúncios na dark web oferecem acesso inicial a empresas e entidades estatais brasileiras.
- Fatores Operacionais Internos e Humanos
- A desigualdade digital, o aumento da criminalidade online e a falta de profissionais de TIC qualificados limitam o potencial digital do Brasil.
- Existe uma grave escassez de profissionais de cibersegurança qualificados (CISOs).
- 74,6% das organizações públicas carecem de políticas de backup estabelecidas, e entre aquelas com políticas, 66% não criptografam seus dados. A maioria dos departamentos governamentais não possuía planos ou capacidades básicas para fazer backup de sistemas de informação.
- Vulnerabilidades exploradas (incluindo as anteriormente desconhecidas) e credenciais comprometidas são as principais causas-raiz dos ataques.
- A falta de pessoal/capacidade e a falha das equipes em seguir corretamente os processos são causas operacionais significativas para organizações se tornarem vítimas de ransomware.
- O fator humano é consistentemente um alto risco para violações de segurança.
Para garantir a conformidade e a resiliência cibernética, as organizações brasileiras devem adotar uma abordagem proativa, informada e abrangente. Isso inclui a implementação de tecnologias de cibersegurança avançadas, o fortalecimento das defesas contra ameaças em evolução, e o investimento contínuo em educação e treinamento para capacitar os usuários internos. A conformidade com a LGPD e outras regulamentações setoriais é crucial para mitigar riscos e proteger os ativos digitais em um cenário de ameaças cada vez mais sofisticado.
